De que serve a tematização?
Com uma cada vez maior oferta de unidades hoteleiras no País, torna-se importante para um hotel a sua diferenciação no mercado. Será a tematização a solução para alcançar esta distinção?
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Com uma cada vez maior oferta de unidades hoteleiras no País, torna-se importante para um hotel a sua diferenciação no mercado. Será a tematização a solução para alcançar esta distinção?
Portugal será um dos mercados europeus que receberá, em 2016, uma maior atenção por parte dos investidores em imobiliário hoteleiro, de acordo com um estudo realizado pela consultora JLL, intitulado ‘Hotel Investment Outlook 2016’. Com o crescimento do número de novas unidades hoteleiras a abrir em todo o País de ano para ano, torna-se importante para os hotéis apostarem numa estratégia de diferenciação, de forma a destacar-se da grande oferta que existe no mercado. Com o objectivo de conseguir essa diferenciação, começam a surgir, cada vez mais, hotéis que se aliam a temas específicos. Música, arte, literatura, gastronomia e vinhos são alguns dos exemplos dos temas que podem ser encontrados em unidades hoteleiras. Conheça alguns dos hotéis temáticos que existem em Portugal e de que forma esta aposta pode ser uma mais-valia para a operação de uma unidade.
O The Literary Man – Óbidos Hotel é um dos exemplos que podemos encontrar em Portugal, uma unidade de quatro estrelas que resulta da reconversão do já existente Hotel Estalagem do Convento, em Óbidos, para um novo conceito, aliado à literatura. Aberto desde Outubro de 2015, o hotel literário já soma um total de cerca de 30 mil livros dentro do edifício e tem como objectivo chegar a cerca de 100 mil livros. Todas as áreas da unidade contam com pormenores ligadas à literatura, nomeadamente na cozinha, com livros de receitas internacionais e nos quartos, que se encontram agora em remodelação. Telmo Faria, responsável pela unidade, explica: “Estamos a renovar o hotel inteiro. Já temos 14 quartos renovados no total de 30 [quartos existentes], as áreas comuns também estão renovadas e, de tempos a tempos, vão abrindo várias [áreas] vamos fazendo essa intervenção”. Quanto aos quartos, indica, a sua decoração será especializada “por autor e por movimentos literários”. A livraria do hotel é uma das 11 que existem em toda a Vila de Óbidos, integrando um projecto que abrange toda a vila, sendo essa a razão da escolha do tema do hotel: “Fui autarca em Óbidos durante 12 anos e, em 2012, foi iniciado um projecto chamado ‘Óbidos Vila Literária’”, afirma Telmo Faria. Como tal, acrescenta o responsável, “o conceito estava criado. Numa vila literária gostamos de ter livrarias, hotéis literários, onde o tema e a especialização do sistema urbano de Óbidos fosse à volta dos livros, portanto é um processo muito maior do que o do próprio hotel. Quando ficámos com o espaço, foi muito fácil de encontrar qual seria o tema, porque a vila já tinha no seu centro histórico iniciado um processo de especialização temática.”
Outro exemplo é o Hotel Fábrica do Chocolate, situado em Viana do Castelo. A Fábrica do Chocolate é um espaço multifuncional, composto por quatro espaços com a componente temática associada ao chocolate, dos quais um museu, um hotel, restaurante e uma loja. Gorétti Silva é a responsável do projecto e explica como é que este surgiu. “O Museu do Chocolate foi, na verdade, o projecto âncora. Foi daí que surgiu tudo o resto, nomeadamente o hotel, o restaurante e a loja”, explica. Segundo a responsável, a Fábrica do Chocolate foi uma das primeiras fábricas a produzir chocolates em Portugal, tendo sido inaugurada em 1914. Cerca de uma década mais tarde (1922) foi construído este edifício na Rua do Gontim – onde está, actualmente, localizado o hotel, que passou então a funcionar como instalações da fábrica que aqui laborou até 2004. De acordo com a responsável, “o doce aroma do chocolate fazia-se sentir nas ruas e o hábito de passar na fábrica para ir buscar chocolates é algo que ainda permanece nas memórias mais estimadas dos vianenses. (…) Este sentimento de familiaridade e quase de “posse” que os cidadãos têm para com a memória da fábrica é algo que sempre quisemos honrar e respeitar, desde o início deste projecto”, destacando que “pareceu-nos evidente que esta era uma oportunidade única de criar um produto turístico que fosse simultaneamente inovador e que honrasse e preservasse a memória do chocolate em Viana do Castelo”.
O Grupo HF Hotéis Fénix abriu, no ano passado, o HF Fénix Music na cidade de Lisboa. Tal como a sua designação indica, é na música que o hotel se inspira. Nuno Cabral, coordenador de Marketing Communication & Connectivity do grupo, indica que “a música é, provavelmente, a única coisa no mundo que une as pessoas, independentemente das suas diferenças culturais, geográficas, religiosas, toda a gente gosta de música. A partir daí, o objectivo era criar um conceito dinâmico, interactivo e que estivesse relacionado com a nossa actividade, a hotelaria”. Segundo o responsável, “o conceito do hotel HF Fénix Music é dinâmico. É um hotel que está sempre a apresentar novidades, tentando surpreender, respeitando o conforto e a privacidade do hóspede, que é a nossa prioridade.”
Também ligado ao mesmo tema está o Hotel da Música, no Porto. Júlio Guerra, director-geral da unidade, explica que o Grupo Hoti Hotéis ainda não contava com nenhum hotel temático, sendo uma das razões para o grupo apostar nesta unidade. “Entusiasmou-nos muito criar uma unidade hoteleira ligada às artes e à cultura. Também contou a localização ser próxima de uma das instituições mais emblemáticas da cidade do Porto, a Casa da Música, e não haver ainda nenhum hotel ligado a este tema, à música”, acrescenta.
Foi nas emoções humanas que se inspirou o Cooking & Nature Emotional Hotel, no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros. Rui Anastácio, proprietário da unidade, refere: “Procurámos sobretudo diferenciação, através da construção de um produto que não deixasse ninguém indiferente. Mais que inspiração em diferentes emoções pretendemos mexer, de forma positiva, com as emoções dos nossos hóspedes, gerando bem-estar interior”.
O que diferencia um hotel temático no mercado?
No caso do Hotel Fábrica do Chocolate, considera Gorétti Silva, é o tema que permite diferenciar o hotel e definir o seu posicionamento. “O chocolate é, para a maioria das pessoas, catalisador de paixões e afectos. Nessa perspectiva, os segmentos que nos procuram são as famílias e os casais. Os casais, em celebração ou não, encontram aqui um ambiente intimista para um jantar especial, para partilhar uma fonte de chocolate no quarto ou um tratamento de chocoterapia para dois. As famílias encontram espaço para momentos de diversão em conjunto”. Além disso, defende a responsável do projecto hoteleiro de Viana do Castelo, “quem nos visita tem a expectativa de viver uma experiência de chocolate em várias dimensões. E é isso exactamente que acontece” uma vez que, além da experiência durante a sua estadia, da visita ao museu e dos tratamentos de chocoterapia, os hóspedes poderão ainda participar em actividades relacionadas com chocolate como a confecção de barras de chocolate e bombons ou ter experiências de degustação, não só de chocolates de diversas origens, mas também dos pratos cujo elemento principal é o cacau.
O Hotel da Música, de acordo com Júlio Guerra, “é a primeira unidade hoteleira a dividir espaço, física e comercialmente, com um mercado – o Mercado do Bom Sucesso – o que nos torna altamente diferenciadores dos outros espaços”. A unidade, que também procura participar na divulgação de eventos relacionados com música na cidade, tem o seu tema no foco de captação de mercado. “A temática da música tem sido um factor muito importante para a captação de hóspedes, mas acreditamos que o nosso principal trunfo é a qualidade do serviço que prestamos diariamente, de forma a assegurar a máxima satisfação do cliente enquanto hóspede do Hotel da Música”, afiança o director-geral.
Rui Anastácio declara que o Cooking & Nature Emotional Hotel, fruto do seu conceito, “adquiriu notoriedade e diferenciação muito rapidamente, tendo o conceito de ‘cooking’ contribuído decisivamente para isso. O facto de termos diariamente serviço de jantares em modo ‘cooking lesson’ é algo que nos diferencia claramente da concorrência e que permite uma forte interacção com os nossos hóspedes”. No entanto, assegura o responsável, “o tema é um bom ponto de partida, mas não é um fim em si mesmo. O que é realmente importante é a satisfação do cliente à saída”.
Já no caso do HF Fénix Music, o tema “desperta bastante curiosidade” junto dos clientes, assim como outros factores, tais como a sua localização, no coração da capital portuguesa. Nuno Cabral afirma que “o conceito da música está presente desde a chegada até à partida. Em todas as comodidades que um hotel tem de ter, procuramos transmitir o conceito de uma forma dinâmica e envolvente, proporcionando algum tipo de surpresa”. “O hóspede, assim que chega, é saudado por uma área interactiva semelhante a uma ‘red carpet’. Na recepção e em outras áreas comuns, o hóspede é envolvido pela música, onde as peças de design assumem a forma de objectos musicais (a recepção tem a forma de uma bateria, o bar de um piano (visto de baixo) e de um violino (visto de cima), apenas referindo alguns”, conclui o responsável.
Em Óbidos, no hotel The Literary Man, Telmo Faria garante que são os livros que mais levaram à procura pelos hóspedes e pela diferenciação junto dos mesmos: “O hotel tem hoje um ambiente muito cultural, os livros trouxeram-lhe esse ambiente e a partir daí desenvolvemos as operações todas da hotelaria clássica, sempre com a atmosfera do livro”, realçando que o hotel se diferencia essencialmente ao trabalhar para públicos como escritores, artistas, comunidades de investigação e, “todo esse trabalho, a nossa preparação, é dotar o hotel do ambiente e de infra-estrutura que permita que as pessoas possam trabalhar e viver períodos mais largos do que aquela que é a habitual estadia turística”. O proprietário da unidade declara que o hóspede que procura o hotel literário é o tipo de cliente que “adora o ambiente e é um hóspede que está ligado à literatura e que gosta de ler nas férias. Sentimos uma grande mudança dentro do hotel a partir do momento em que começámos a ter imensos livros dentro do espaço e hoje já estamos a captar no mercado internacional muitos turistas que vêm exclusivamente por ser um hotel literário”. Para Telmo Faria, “os hotéis temáticos devem ter uma clara estratégia de especialização” e, actualmente, está a integrar uma equipa técnica que se dedica especialmente à livraria dentro do hotel, fazendo do The Literary Man “mais do que um hotel, um espaço cultural”, conclui o responsável.