Mão de obra é o grande desafio da hotelaria em 2018
Raul Martins, Manuel Proença, José Theotónio, Ricardo Martins e Gonçalo Rebelo de Almeida debateram os desafios do sector.
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O local do 2.º Business Brakfast Publituris Hotelaria não poderia ter sido mais adequado. A Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa foi a anfitriã deste pequeno-almoço, durante o qual cinco dos principais gestores hoteleiros portugueses conversaram sobre as ‘Perspectivas e Desafios de 2018’. Raul Martins, do Grupo Altis; Manuel Proença, da Hoti Hotéis; José Theotónio, do Pestana Hotel Group; Ricardo Martins, da Turim Hotels; e Gonçalo Rebelo de Almeida, da Vila Galé; foram unânimes ao apontar os recursos humanos como o maior desafio e ameaça do presente ano. A qualificação de profissionais, a reconversão profissional de desempregados e a valorização das profissões do sector são algumas das soluções que os gestores hoteleiros dizem ser necessárias para incrementar a mão-de-obra disponível.
O Business Breakfast estava marcado para as 8h30 e teve início de forma tranquila, com os gestores a confirmarem o que tem ecoado de forma contante nos últimos: 2017 foi um ano de recordes, dos melhores já vistos no Turismo, e 2018 não só não vai ficar atrás, como deverá ultrapassar as performances operacionais passadas.
Os desafios, além do já referido, passam, também, pelo aumento do preço médio e da estada média, pela consolidação do destino Portugal e pelos valores de construção.
Mais noites e mais aeroporto
“Como qualquer produto comercial, [Portugal turístico] está numa fase de crescimento. É um produto que começou agora a ser mais conhecido e, portanto, está a aumentar a sua procura. Há-de chegar a um patamar de amadurecimento, como qualquer produto”, começa por dizer Raúl Martins, presidente do Grupo Altis, continuando: “A tendência será de continuar a crescer. Se compararmos algumas cidades e regiões de Portugal com, por exemplo, a vizinha Espanha, ainda estamos longe relativamente à relação do número de turistas e residentes. Portanto, há, ainda, expansão para fazer.” Aqui, o presidente dos Altis deu o exemplo do Interior e falou na necessidade de continuar a subir o preço praticado.
“Depois, temos o serviço, que só podemos melhorar. Como sabemos, a instalação pode ser fantástica, mas se o serviço não for ao nível, não adianta. Temos de continuar a pugnar por um melhor serviço, daí a formação ser muito importante”, refere Raul Martins. Mas este é um assunto que retomamos mais à frente na conversa… e neste texto.
Raul Martins segue a identificar alguns desafios à operação este ano, destacando um assunto cuja polémica promete crescer nos próximos meses: o novo aeroporto de Lisboa. Ou, sendo mais preciso, o constrangimento da actual infra-estrutura aeroportuária, que, diz, “afectará a situação do aumento de turistas na zona de Lisboa, em particular, mas do País em geral”. Nesta problemática existe, ainda, o condicionalismo actual na gestão do tráfego aéreo, com Raul Martins a frisar a necessidade de um “novo sistema [de controlo do espaço áreo], que ainda não foi adquirido”. “Um novo programa também vai aumentar a capacidade do número de slots por hora”, justifica, referindo tratarem-se de soluções nas “mãos do Governo”.
Foi neste momento que Raul Martins falou na estada média e na necessidade de aumentar este indicador, que declarou ser “um desígnio para os próximos anos”.
Consolidação, qualificação e promoção
Manuel Proença, presidente do grupo Hoti Hotéis, é igualmente optimista em relação a 2018, mas prevê “um abrandamento”. Uma fase que aconselha que seja aproveitada para “acautelar o futuro” e avança alguns pontos que acredita serem importantes ter em consideração.
Antes de qualquer passo é necessário ter “o reconhecimento de que finalmente somos um destino de primeiro nível internacional” e que “não vamos continuar a crescer aquilo que crescemos até aqui”.
Como tal, o primeiro passo é “consolidar através de várias maneiras o trabalho que já está feito e de mantermos a linha que temos seguido até agora”, nomeadamente, e como já referido por Raul Martins, o preço e a estada média, considera o gestor.
“Além da consolidação, falava na questão da qualificação: continuar a reabilitação e os programas de qualificação da oferta, que é fundamental”, diz. Ou seja, “acautelar no sentido de estarmos bem qualificados como um destino internacional de qualidade. Não queremos ficar na cauda e ser um destino de turismo rasca. Queremos exactamente o contrário”, alerta Manuel Proença, que traz para a mesa o assunto da promoção, “privilegiando os segmentos de maior valor-acrescentado, digamos de melhor preço”.
Apesar do tema da promoção ser recorrente, o responsável da Hoti Hotéis reconhece que o trabalho feito pela Secretaria de Estado do Turismo “está bem feito”, assim como o do Turismo de Portugal (TdP). “Todos temos mais experiência e estamos a tomar iniciativas. Tudo isto contribuiu para o actual posicionamento e melhorámos significativamente em relação ao passado, não tenho dúvidas. Mas a nossa posição é sempre de melhorar.”
A questão da formação é crucial, “porque lutamos com falta de profissionais e profissionais qualificados”; e, finalmente, a legislação. “A regulamentação do Turismo, mais ligado à Hotelaria, em particular do Alojamento Local”, foca Manuel Proença, reconhecendo, porém, “que todos contribuímos para o que chamamos de destino” e para que “chegássemos a que Portugal tenha esta visibilidade que nos está a pôr nos primeiros lugares e em patamares excepcionais”.
Mercado inglês e ordenamento
José Theotónio, o CEO do Pestana Hotel Group, concordou com os colegas e salientou o problema da mão-de-obra, destacando os destinos sazonais, que concorrem não só com o aumento da oferta hoteleira, como dos demais serviços turísticos, como sejam a restauração, animação turística, a Uber, Cabify e negócios idênticos.
“Este ano pode haver um outro desafio para os destinos resort, que é o mercado inglês”, acrescentou José Theotónio, explicando que “não é directamente pelo Brexit”, mas pelo impacto que tem levado a libra a desvalorizar face ao euro. “Mesmo sem aumento de preços, os destinos que praticam preços em euros estão a ficar muito mais caros. Quando aparece a concorrência que não faz preços em euros e que, ainda por cima, tem estado enfraquecida, por problemas que até são alheios ao turismo, e que por estar fora da União Europeia consegue ajudas de custos, torna-se mais complicado.” Nestes destinos mais ‘leisure’, acrescem as recentes falências de companhias aéreas como a Monarch e a airBerlin.
A médio e longo prazo, os desafios apontados pelo gestor passam, também, pela “questão de ordenar os sítios mais procurados para que não se comece a criar uma má vontade contra o Turismo na população”. Algo que deverá ser atacado “desde o início”. “Se formos ver os nossos números em comparação com outras cidades europeias, não devia haver esse problema em Lisboa. Mas não há dúvida que o nível de concentração que existe em dois ou três bairros faz com que exista essa percepção.”
Outro desafio é a concorrência entre a hotelaria tradicional e o Alojamento Local versus o aumento da oferta, pois é a “procura que comanda e, quando está boa, estamos todos contentes e podemos fazer tudo, mas isto é cíclico e há altos e baixos”. “Se estamos agora a rever as portarias, é uma oportunidade para equiparar as condições de competitividade. Quem tem hotéis não quer que o AL desapareça, isso é contra aquilo que são as leis do mercado e seria impossível, passavam para a clandestinidade e seria pior. Mas as formas de concorrência é que têm de ser semelhantes. Não é fazer legislações iguais, porque são coisas diferentes, mas os requisitos mínimos têm de se aproximar. Costumo dizer que não é tanto o AL que tem que subir muito as suas exigências – tem de fazê-lo em algumas áreas, como a segurança e higiene -, mas é, principalmente, ao nível dos hotéis, que têm de descer uma série de obrigações e requisitos que hoje são ridículos, que não têm nada a ver com o mercado, não beneficiam nada aquilo que é o cliente final, só encarecem as operações dentro da hotelaria.”
Ciclos económicos
Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador da cadeia Vila Galé, é da opinião de que, “globalmente, a perspectiva é positiva”, mas adverte para “alguns sinais que temos de estar atentos”. Com 30 anos no mercado, a Vila Galé já passou por três ciclos económicos muito positivos, explicita o administrador, indicando que existe um intervalo de oito/nove anos entre eles. “São mais ao menos certos, o que significaria que, agora, se a história se voltar a repetir, estamos num pico e a seguir é para cair. Espero bem que não. Não penso que 2018 seja esse ano, mas começa a haver alguns sinais aos quais temos de estar atentos”, alerta.
Gonçalo Rebelo de Almeida retoma o desafio do actual Aeroporto de Lisboa, que “estará perto de estar esgotado”, e avança duas hipóteses: “Ou se vai pela via do aumento da estada média e, assim, a pessoa não ocupa mais um lugar de avião e cresço no número de noites. Podem-se fazer algumas acções, mas não é uma solução muito fácil. Ou, então, toda a região de Lisboa vai passar por um constrangimento durante três ou quatro anos, que é o tempo que vai demorar a desenvolver” o novo espaço aeroportuário. A situação é diferente para o Algarve ou o Aeroporto do Porto, “que ainda tem alguma capacidade de crescimento”. Aliás, diz, “o Porto é quem vai beneficiar um pouco mais com isto porque algumas das rotas estão a ser levadas para o Norte. É, portanto, aquela que penso que até pode ter um desenvolvimento maior.”
Outra preocupação de Gonçalo Rebelo de Almeida, que também está ligada ao problema aeroportuário, é o aumento da oferta de alojamento e a redução de preços. “Não significa que o País ou a região não mantenham os níveis de turistas, mas os players vão ressentir-se. E isto pode resultar – espero bem que não, mas aconteceu noutros cenários em que começa a haver uma diminuição na procura de cada um dos players – numa tendência para a redução dos preços. Este é um fenómeno que me preocupa porque, na prática, quando, hoje, dizemos que os preços da hotelaria estão a aumentar muito, há uma parte significativa deste aumento que é reposição daquilo que tinham descido.”
Por outro lado, o administrador enaltece os “sinais ténues de evolução positiva em relação à diminuição da sazonalidade” e exemplifica: “Os meses de Novembro e Dezembro do ano passado acabaram por ser positivos, estamos sempre a falar de números baixos, mas, por exemplo, no Algarve estou a passar de uma ocupação de 20 para 25 ou 30%. A tendência é positiva, é melhor do que cair, mas o valor ainda é baixo.”
“Tenho alguma preocupação quanto à Madeira, porque também não tem previsão de crescimento no número de voos, houve operadores que até diminuíram algumas das operações e a região também vai crescer na oferta hoteleira.”
Acrescem as falências de companhias aéreas, como a Monarch, a Nikki e a airBerlin; e “alguns destinos que começam a ressurgir”, como a Turquia, a Tunísia e o Egipto. “Alguns destes destinos, essencialmente concorrentes do Algarve e da Madeira, começam a crescer e, portanto, não prevejo que vamos continuar a crescer muito mais”, conclui.
Construção e licenciamento
A mão-de-obra e a formação foram, também, tópicos referidos por Ricardo Martins, CEO do Grupo Turim Hotels, que deixa o aviso que a falta de trabalhadores já atinge outros sectores relacionados, como a construção e o mobiliário. Actividades cujo desempenho e organização impacta a hotelaria, nomeadamente o custo de investimento e da construção.
O responsável da Turim aponta, ainda, o problema dos licenciamentos camarários, que não mostra melhorias e que, por vezes, excede o próprio período de construção de uma unidade hoteleira. Algo que mexe com as finanças, investimentos e perspectivas dos grupos hoteleiros.
O ano de 2017 “foi excelente” e o gestor acredita que 2018 vai ser “de crescimento”, atendendo aos indicadores e ao que o grupo já tem ‘on the book’.
Aumentar estada média
A estada média é um dos indicadores com menor evolução positiva dentro da Hotelaria. E que urge solucionar. As medidas a tomar estão identificadas pelos gestores hoteleiros e passam por dar a conhecer o País como um todo, com uma maior integração das regiões, além da promoção de produtos já existentes e a criação de outros.
“O aumento da estada média é um desafio que AHP já lançou ao TdP”, afirma Raul Martins, também presidente da associação, explicando que o instituto público “devia assumir o papel da promoção neste desafio”. “O desenhar, construir, trabalhar numa acção de promoção que alargue a estada média, e é tao simples quanto prolongar a estada pelas regiões que têm menos ocupação. Porque não Lisboa + Alentejo; Porto + Centro. Programas com mais do que um destino para prolongar a estada”, questiona.
Questionado sobre se as Entidades Regionais estão comprometidas com esta interligação, o responsável dos Altis refere que o desafio está lançado e que, “se for caso disso, vamos desenhar um programa e apresentar no TdP para ser implementado o mais breve possível, não será este ano, evidentemente, mas para o próximo já seria interessante termos um programa desse tipo”.
Já Manuel Proença refere tratar-se de um tema do qual “se tem falado que é a valorização do Turismo Interior” e elogia os “grandes esforços” das entidades regionais. “Aliás, foi criado um grupo de trabalho ao nível do Ministério da Economia para a promoção do Interior. Ou seja, isto está dentro do programa do Governo e é necessário avançar com este tipo de projectos e dar-lhes meios para o fazer.”
O responsável da Hoti Hotéis diz, também, ser preciso fomentar o desenvolvimento de “unidades no interior, que são aquelas que normalmente têm as taxas de ocupação e preços mais baixos”. “As vias de comunicação e acessibilidade são excelentes, todos reconhecem isso, pelo que não há nenhuma razão para que o Interior não se desenvolva e acredito que este grupo de trabalho que foi criado, se trabalhar bem, vai conseguir resultados e contribuir também para a estada média do turista no nosso País.”
Além do desenvolvimento do Interior, é preciso olhar para o Turismo interno, que “também é uma vertente forte do Turismo e da taxa de ocupação”, afirma, fazendo referência aos potenciais resultados positivos do programa ‘Ponha Portugal no Mapa’, do TdP.
“No fundo, é preciso passar a imagem de Lisboa que não é uma cidade como muitas outras europeias, que são muito limitadas e isoladas e que três dias chegam para visitar”, sugere, por sua vez, Gonçalo Rebelo de Almeida, para quem é necessário, primeiro, “desenvolver mais argumentos de que Lisboa não é só Belém e a Zona da Baixa, o que até ajuda a desconcentrar os turistas na cidade”. Depois, continua, a região “também pode ser promovida – e há muito poucas cidades europeias onde isto possa ser feito – como um produto de Sol&Praia, porque temos toda a zona da Costa, quer da Linha de Cascais, que a Costa de Caparica”. Por fim, o administrador dos Vila Galé aponta a “facilidade” de o País ser territorialmente pequeno, podendo um turista pernoitar em Lisboa e visitar regiões de proximidade ou ficar instalado noutros locais. “É preciso passar a ideia de que esta é uma região mais alargada e que tem conteúdos e produto para justificar que a pessoa fique mais tempo”, finaliza.
Ricardo Martins, dos Turim, fala “na felicidade de sermos um País relativamente pequeno com vários destinos cá dentro e com excelentes vias de acesso” para referir “não é só promover internamente essa questão, mas lá fora”. “Viaja-se mais de fora para dentro do que de dentro para dentro. Tem de se passar a informação de que, em Portugal, temos vários destinos relativamente perto uns dos outros”.
Formação, qualificação e salários
É muito provável que tenha lido este texto (extenso, sabemos) à procura deste tema. Ou, pelo menos, folheou as páginas com maior curiosidade em busca desta problemática. Em jeito de conclusão deste debate, a grande ameaça ao sector apontada pelos cinco gestores é a falta de mão-de-obra, quer directamente, quer indirectamente, através dos demais sectores a que a Hotelaria está ligada e depende, com o é o caso da construção. E quando falamos de recursos humanos, falamos da sua falta generalizada, mas com maior ênfase em áreas operacionais, como o housekeeping, o F&B e a manutenção.
A falta de mão-de-obra é uma realidade dramática, afirmam os gestores, recusando que a falta de pessoal se deva à teoria que tantas vezes se ouve de que os salários não são atractivos. “Na Hotelaria, ao contrário do que o INE diz, porque estamos juntos com a restauração, o ordenado médio, hoje em dia, é superior ao ordenado medio nacional, logo, certamente que é uma boa escolha ir para hotelaria e há carreira”, sublinha Raul Martins, referindo a análise feita pela AHP de que o ordenado médio do sector, em 2016, situou-se nos 1035 euros, contra os 950 euros nacionais.
“Os baixos salários são uma falsa questão”, afirmou, peremptoriamente Ricardo Martins, dos Turim. “Não estamos a falar apenas nos vencimentos base, há todo um complemento salarial que não é considerado quando se compara com actividades paralelas ao Turismo”.
Quando o tema recai sobre o que cabe fazer ao sector público, o CEO dos Turim é espartano ao afirmar que “enquanto houver desemprego, pode fazer tudo”. “A partir do momento em que há taxa de desemprego, o sector público tem ainda tudo para fazer para converter o desemprego em emprego, porque no Turismo há falta de mão-de-obra.”
O gestor destaca, ainda, que a tendência é para que esta falta se acentue dado o aumento da oferta previsto.
A conversão e requalificação dos desempregados para que preencham os postos existentes no sector do Turismo, em concreto da Hotelaria, é uma medida falada por todos os gestores, com Manuel Proença a exemplificar com as recentes falências da Triumph e da Ricon.
Raul Martins fala, ainda, nos centros de formação e nas obrigações a que estão sujeitos os desempregados, afirmando que “há que fazer formação que não seja específica do sector de onde a pessoa vem”. “Sei que é difícil, mas as pessoas têm que ser devidamente seduzidas” para trabalhar no sector, diz.
“Na parte dos privados, está-se a fazer muita coisa ao nível da requalificação, da melhoria”, acrescenta, enquanto Manuel Proença exemplifica com a formação ‘on the job’ e as academias e centros de formação que as diversas cadeias hoteleiras têm dentro das suas estruturas.
Gonçalo Rebelo de Almeida avança com a parte social do desemprego na hotelaria: “80 ou 90% das nossas necessidades passam-se entre o housekeeping, cozinheiros e copeiros e empregados de restaurante. Estas três funções, que são essencialmente operacionais, são as mais difíceis de preencher, porque socialmente nunca foram valorizadas”.
O administrador da Vila Galé descarta, ainda, o problema da sazonalidade nesta questão, dando o exemplo da sua marca, que se propõe a contratos mais extensos e mais regalias, mas que se depara com situações inusitadas como dar formação e pagar salários durante largos meses para, dias antes da necessidade efectiva do funcionário, este trocar o trabalho por outro idêntico.
“A legislação laboral também não ajuda”, diz, por sua vez, José Theotónio, explicitando que esta “não está adaptada a uma indústria que trabalha 24h/dia, 7 dias/semana e que tem as tais sazonalidades”.
“Mas, hoje, há uma parte da população que não quer contratos colectivos. A minha geração quer, mas a geração nova não quer, porque quer ter várias experiências, acrescenta, refutando, igualmente, os baixos salários no sector.
“E há outra coisa que não ajuda, que é a questão do subsídio de desemprego, porque muita gente procura trabalhar até ter a garantia deste subsídio e, uma vez garantido, tem ali um tempito descansado”, adverte, ainda, o CEO dos Pestana, reforçando a importância da “valorização das profissões”.
Manuel Proença adianta, também, neste assunto, que existe falta de formação mais específica e pede que “não se mexa” na legislação laboral, sob pena de piorar a situação dos empregadores e trabalhadores da indústria.
Em jeito de conclusão, Ricardo Martins fala, também, “nestas mudanças e políticas laborais, e que não se pode falar apenas nos direitos que os trabalhadores têm num contrato, também têm de ter deveres”. “Isto é uma injustiça”, considera, referindo que “temos de cumprir com um contrato até ao final e o trabalhador não. Não pode ser assim, deveria haver uma obrigatoriedade”. “Não podemos falar apenas de direitos, mas também de deveres”, reforça.
A qualificação do pessoal e do serviço é, ainda, necessária para a própria qualificação do destino, algo para que a formação é essencial e tem de ser desenhada, pois a que existe é parca, consideram cinco dos principais gestores hoteleiros.
Agradecimento: Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa