Nos primeiros anos da década de 50, onde Portugal atingiu os 200 mil turistas anuais, o mercado dos Estados Unidos da América (EUA) chegou a ser o segundo mercado, atrás de Espanha. Passados 70 anos, Portugal desenvolveu-se como destino turístico, sobretudo à custa de mercados europeus. Porém, para a região de Lisboa, os EUA continuaram a ser importantes, nomeadamente para os hotéis de cinco estrelas, pois continuaram a ser o mercado que gera mais receitas por quarto.
Os EUA, apesar do seu turismo interno, são o terceiro maior mercado mundial emissor de turistas, com 158 milhões de viagens, e o primeiro em receitas, com 173 mil milhões de USD.
Em Portugal, sem se reparar muito, as dormidas dos EUA mais que dobraram de 2016 para 2019, de 1,3 para 2,7 milhões, com ainda maior crescimento da receita. Os EUA foram em 2019 o sexto mercado em termos de dormida. Este posicionamento não se faz somente à custa de Lisboa (4.º mercado) ou da Região Autónoma dos Açores (2.º mercado), sendo também um mercado relevante no Norte (4.º mercado) e no Alentejo (6.º mercado). Mais impressionante é pensar que, sem uma única ligação aérea direta, os EUA geram mais dormidas no Algarve que mercados como a Itália ou a Suécia.
Este sucesso tem vários responsáveis, mas há que reconhecer o papel preponderante da TAP, com ligações diretas a sete cidades dos EUA e o programa Stopover.
Tudo isto é passado e, após dois anos de pandemia, importa olhar para o futuro e entender como este mercado poderá continuar a crescer para Portugal. Em primeiro lugar, há que reforçar a promoção de Portugal nos destinos com ligação direta, voados pela TAP ou por companhias americanas.
Em segundo lugar, considerar que o mercado dos EUA vive com um manancial de cartões de fidelidade de companhias aéreas, hotéis e rent a cars. A TAP terá sempre as suas limitações e torna-se necessário continuar o esforço de captar companhias aéreas norte americanas. Na hotelaria acontece o mesmo. Portugal continua a ser um dos países com menos unidades hoteleiras com marca internacional. Contudo, o panorama está a mudar, seja com marcas principais, seja com “soft brands” das cadeias hoteleiras. Julgamos que este último modelo, que permite a integração de hotéis independentes nas centrais de reservas e programas de fidelização das cadeias, deverá ser ponderado pelos hoteleiros, nomeadamente em regiões como o Algarve e a Madeira.
Por último, há que considerar o produto e o serviço nos hotéis, restaurantes e demais estruturas turísticas. O cliente dos EUA, bem menos complicado que o do Japão ou da China, não se importa de pagar o que for necessário, mas exige um produto e um serviço “Value for Money”, a qualquer nível de preço.
Se regiões como Lisboa e o Porto e Norte nos parecem preparadas para o mercado dos EUA, já a Madeira e o Algarve terão caminho a fazer em termos de marca/produto hoteleiro, e são precisamente estes destinos onde antevemos mais possibilidades de crescimento. A United Airlines encomendou 120 A321neo e XLR, que permitem rotas transatlânticas e aterragens em pistas mais curtas, como a do Aeroporto de Faro. A Madeira, e bem, já terá este Verão uma pequena operação (SATA) direta dos EUA, mas será necessário dar a conhecer a beleza do destino e alinhar o produto hoteleiro. Quanto ao Algarve, as praias, o golfe e também o alinhamento do produto hoteleiro serão fatores que poderão fazer crescer este mercado tão valioso para outros patamares.
Luís Pedro Carmo Costa, sócio da Neoturis
*Publicado na edição de abril da Publituris Hotelaria