Opinião | “Hotelaria em 2024: nova oferta de qualidade, fragmentação de produto e conceitos”
Leia aqui a opinião de Gonçalo Garcia, Head of Hospitality, Cushman & Wakefield.
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É sempre com grande sentido de privilégio e responsabilidade que partilhamos opinião sobre o setor do turismo. Felizmente, nos últimos anos, temos tido a possibilidade de escrever em estilo entusiasta suportados por resultados consistentemente crescentes.
Com a exceção de alguns percalços circunstanciais, transversais ao mercado global, o desenvolvimento turístico em Portugal tem sido crescente em todos os domínios, resultado da consistência de trabalho conjunto entre autoridades e privados, com vista a uma clara comunicação e ações sobre que tipo de turismo se pretende para o país e que benefícios deverá proporcionar.
O desenvolvimento gradual de destinos turísticos em Portugal tem contribuído para a requalificação e dinamização de zonas, outrora abandonadas à sua própria sorte. A atividade turística tem ajudado neste sentido a impulsionar a atividade económica e a criar novas dinâmicas económicas em zonas de menor abundância.
O crescimento turístico é evidente, tendo a procura, no indicador dormidas, crescido a uma taxa média anual agregada de 4,5% entre 2014 e 2022, passando de 48,7 milhões de dormidas para 69,6 milhões. Prevê-se 2023 com registo recorde acima das 75,0 milhões de dormidas, ajustando a taxa média de crescimento para 4,9% desde 2014.
Fonte: Travel BI | Cushman & Wakefield(*) – Estimativas de acumulado anual
Este quadro de crescimento é possível, e igualmente alimentado, pelo aumento de oferta qualificada. Entre 2020 e 2023, a Cushman & Wakefield contabilizou a abertura de 217 novos estabelecimentos hoteleiros, representando mais de 13 mil novos quartos. De salientar que a nova oferta é distribuída pelas diferentes categorias, porém com maior incidência nos 4 e 5 estrelas.
E a qualificação do produto não ficará por aqui, com cerca de mais 100 novos hotéis para abrir entre 2024 e 2026, representando mais de 10.000 quartos aos anteriormente somados. É de salientar que, nestes aspetos, os incentivos à qualificação têm ajudado ao surgimento de projetos independentes de qualidade, reforçando o atrativo de regiões menos desenvolvidas turisticamente e por esta via contribuindo para a descentralização da atividade turística dos destinos já consolidados.
Apesar da nova oferta de qualidade, observa-se ainda bastante fragmentação de produto e conceitos. A margem de crescimento de oferta associada a marcas internacionais é uma tendência que terá materialização em 2024, com a abertura prevista de hotéis de média/grande dimensão, associados a marcas hoteleiras internacionais e nos diferentes segmentos. A destacar os novos 5 estrelas – Melia em Lisboa, com 240 quartos, e o Andaz Lisboa, com 170 quartos – bem como o 3 estrelas B&B Hotel Vila Nova de Gaia, com 210 quartos.
A qualificação e o crescimento da oferta são positivos, na medida em que permite ao país tornar-se mais competitivo no mercado global, num setor de atividade altamente competitivo e onde os destinos ombreiam pela captação do turista internacional.
Embora os passos ao nível da qualificação da oferta estejam a produzir efeitos positivos para a atividade turística, não se deve descurar que esta é feita de pessoas, e para assegurar o futuro do turismo também é necessário assegurar que os turistas têm forma de chegar até nós em número, conveniência e competitividade.
Gonçalo Garcia
Head of Hospitality, Cushman & Wakefield