Opinião: “Alterações ao serviço de mesa como resposta à falta de recursos humanos”
Leia aqui o artigo de opinião de José Varela Gomes, professor e co-coordenador da licenciatura de Gestão Hoteleira – ISAG – European Business School.
Depois da crise por COVID-19 intensificou-se a falta de recursos humanos no setor da hotelaria e da restauração, e por incrível que pareça, continuam a surgir novas unidades hoteleiras e novos espaços de restauração. Para piorar a situação, o número de candidatos às Escolas de Hotelaria e Turismo tem reduzido enormemente, o que faz com que o futuro do setor hoteleiro em termos de recursos humanos deva ser repensado.
A crise faz-se sentir especialmente nas funções de contacto com o público, como é o caso do pessoal de serviço de mesa/bar, porque se nas funções de backoffice não existe obrigatoriedade do domínio do português, para quem tem contacto com os clientes torna-se obrigatório, o que limita o âmbito de recrutamento aos portugueses e aos oriundos dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOPs).
Assim, há que criar estratégias para reduzir as necessidades em pessoal na prestação do serviço ao cliente. O que tem acontecido em muitos restaurantes é que ao reduzir o número de elementos da brigada de serviço de sala, mas mantendo a forma de como serviço é prestado, este torna-se demorado e objeto de reclamações.
É na forma de como o serviço é prestado que também devemos atuar, e aí temos basicamente quatro linhas de atuação:
1. Limitar a oferta de pratos, optando pela venda de pratos em ementa (menu de vários pratos vendidos por um preço pré-determinado) e/ou pratos do dia que, em ambos os casos devem ser previamente confecionados e, portanto, mais rápidos a serem servidos. Caso se mantenha a opção de venda à carta, o número de pratos incluídos no cardápio deve ser reduzido ao mínimo;
2. Antecipar fases na sequência do serviço: A execução do serviço de mesa é um processo complexo. A sua análise deve permitir seccioná-lo em procedimentos/fases mais simples. Estas fases devem ter uma sequência lógica que se inicia na chegada do cliente e termina no pagamento da conta e saída do cliente. Sempre antecipamos uma fase quando, por exemplo, tiramos o pedido enquanto o cliente está à espera de mesa. Estamos a reduzir o tempo total do serviço;
3. Eliminação de procedimentos na prestação do serviço: Avaliando cada procedimento, confirmá-lo como essencial ou eliminá-lo se o considerar sem importância. Se os nossos clientes não valorizam o serviço de travessa em que o empregado de mesa o serve, então passe-se a fazer serviço empratado.
4. Transferir procedimentos do empregado de mesa para o cliente: Na maior parte dos restaurantes ainda é o empregado de mesa que traz a conta à mesa para o cliente pagar, mas já se vai vendo em vários estabelecimentos, nomeadamente em cafés e pastelarias, através do cartão identificativo da mesa, o cliente dirige-se à caixa com o cartão e paga, libertando a mesa para o próximo cliente por um lado e libertando o empregado para outras funções.
Cada restaurante é um mundo diferente de todos os outros, pelo seu conceito e, essencialmente pelos seus clientes. É fundamental termos a perceção das expetativas que eles têm quanto ao serviço que praticamos antes de avançarmos com qualquer alteração.
José Varela Gomes
Professor e co-coordenador da licenciatura de Gestão Hoteleira – ISAG – European Business School
*Artigo de opinião publicado originalmente na edição 218 da Publituris Hotelaria